À beira do fim do mundo e as redes sociais fofinhas

 

Não. Não quero alarmar; também não quero causar o pânico e penso que também não estou a exagerar quando digo que estamos a viver tempos únicos e extremamente difíceis e que vamos daqui em diante pagar cada vez mais caro. 

Compreendo que este mundo da Internet, do digital business não esteja virado para o assunto e muito menos queira encarar a realidade dura, tal e qual como ela é, mas admito que faz-me muita confusão como é que há pessoas que conseguem no meio de tanta merda fazer e mostrar a sua vidinha feliz e perfeita. As mesmas rotinas, os mesmos hábitos e as mesmas futilidades repetidas até à exaustão todo o santo dia a encher os feeds da população que os segue religiosamente. Admira-me como conseguem manter a sua postura encenada de vida perfeita e feliz nas redes sociais todo o santo dia enquanto partilham pela 5ª vez consecutiva na mesma semana que foram comer fora, ou que o restaurante Y e Z lhes ofereceu mais umas refeições à pala; que compraram roupa pela 2ª vez na semana e que viajaram pela 4ª vez para o estrangeiro desde que começou o ano, e não esquecer, receberam o 3º carregamento de recebidos da semana para mostrar aos seus "fiéis seguidores".

stop making stupid people famous


Estamos a viver um período de grande instabilidade política, social, económica e ao mesmo tempo, estamos literalmente às portas de uma 3ª guerra Mundial enquanto recuperamos dos efeitos de uma pandemia que se refletiu por mais de uma vez em Lockdown. Importante sublinhar que a pandemia ainda não desapareceu, estamos ainda a tentar controlar um vírus e tudo o que isso acarreta e os estragos que fez e continua a fazer.

Para quem ainda não se apercebeu, os bens essenciais estão caríssimos e não vão ficar por aqui. Temos bens essenciais à nossa sobrevivência e qualidade de vida a ser taxados com o IVA máximo de 23%. Mas isso não é muito importante e não dá likes. Há pessoas a escolher entre comprar o pão para casa ou os medicamentos. Isto é só triste. Se já havia miséria no nosso país, imaginem agora essa miséria a aumentar a cada dia. O desemprego a aumentar.  Mais uma vez, isso não dá likes nem engagement.

Mas hey, depois vamos às redes sociais e é logo uma lufada de ar fresco nas nossas vidinhas miseráveis. Somo inundados com vidas perfeitas, recheadas a brunchs e jantaradas dia sim dia sim e códigos de desconto para a loja e marca x e y, porque o importante é continuar a consumir para mostrar e a mostrar para consumir, e assim se faz os carneiros (seguidores) irem atrás e assim se alimentam estas vidinhas vazias que "nos governam" e dão a lufada nos feeds dos nossos telemóveis. È assim que se alimenta esta máquina ou coisa, que vivemos todos diariamente de uma maneira ou de outra, basta que utilizemos as redes sociais. Com a diferença que há quem queira sair dessa realidade fútil, que não queira fazer parte e muito menos contribuir e é aí que eu me incluo e sei que não sou a única.

Agora pergunto, como é que viemos parar aqui? Como raio chegámos a isto?

Peço desculpa pelo desabafo, mas vejo com cada coisa completamente alienada da realidade que fico totalmente abesbílica. As redes sociais sempre foram um espaço de partilha das coisas boas e felizes, nunca das tristezas ou das coisas más que nos acontecem, das nossas derrotas.

A diferença é que de momento há pessoas a viver destas partilhas o que faz do digital um mundo paralelo. Mundo esse que nos faz crer que nós é que estamos mal, ou a viver o lado errado da coisa. Se nos queremos integrar, nós é que temos que querer e que fazer parecer para mostrar aos outros. Para mostrar que estamos a viver do lado certo, do lado feliz mesmo que seja só de fachada (e que por dentro tenhamos uma vida miserável a tentar chegar ao final do mês com uns trocos no bolso). Porque afinal o que interessa é aparecer e mostrar. Comprar para mostrar. Ter para mostrar. Fazer para mostrar. E assim construímos a narrativa da vida perfeita porque a vida com significado e humilde não presta porque não alimenta egos nem carteiras.

Também se sentem assim? Façam como eu. Uma limpeza geral de páginas e pessoas que seguem, e livram-se logo de muitas figuras tristes. A vossa sanidade mental agradece. Ah, a vossa carteira também.


C.C

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